O comerciante e empresário Francisco José Rodrigues acordou naquele domingo, com uma pontinha de ansiedade. Era 16 de agosto de 1891, uma expectativa natural para quem seria empossado, mais tarde, de forma festiva, na histórica condição de político-administrativa do país, Fontoura e outros 295 companheiros não puderam ver criada a Associação, mesmo tendo aprontado os estatutos da entidade. A recente proclamação da República exigia reformulações. Por outro lado a Junta Comercial, concebida em 1891 pelo político campista (na verdade era piauiense), Francisco Portella, primeiro governador do Estado do Rio, também requeria adaptações. Os já 417 sócios se reuniram e extinguiram os estatutos. Finalmente no dia 9 de agosto, elegeu-se a nova e definitiva diretoria.
Nas últimas duas décadas do século, Campos definia sua vocação para a vanguarda. Era a quarta cidade do país em população, com 105.534 habitantes em 1890. Segundo maior produtor de açúcar do país, o município ostentava mais uma marca: renda per capita superior à média brasileira – embora já engendrasse uma desconfortável má distribuição de renda.
Ainda sem incorporar o “I” de industrial (basicamente a indústria açucareira), a Associação Comercial de Campos (ACC), nascia no mês em que o Monitor Campista anunciava, dentre outras curiosidades, uma carta ameaçadora enviada à polícia londrina por G.W.D. ou, como ficou conhecido em todo mundo, “Jack o estripador”.
Na quinta-feira que antecedeu à posse, estreava no “Theatro” São Salvador, a peça “Dalila”. O espetáculo de Octávio Fenillet fora adiado três vezes, porque a roupa do elenco ficara retida em “Macahé”. Para deixar incrédulos os leitores das seções de polícia dos jornais de hoje, publicava-se na cidade, então, editais assinados pelo comandante da polícia da comarca, dando prazo de 15 dias para “os vadios, homem ou mulher, tomarem ocupação honesta, sob as penas do artigo 399 do Código Penal da República”.
Criada para exercer função associativa e principalmente aguerrida defensora dos interesses dos comerciantes, pequenos industriais, usineiros e até lavradores, a ACC logo compraria à família Paula Barroso “o mais bela prédio instalado na Praça São Salvador”. A diretoria adquiriu o imóvel por 25 Contos de Réis e antes de instalar nele a sede, em abril de 1895, promoveu reformas. Já nos primeiros anos do novo século a associação define sua vocação de entidade classista combativa, que fomentará, em toda a sua trajetória de lutas, ideias e interferências, de cunho, muito mais comunitário que em causa própria.
BOA DE BRIGA
Um dos momentos históricos que comprovam essa vocação se deu na primeira década do século passado. A comunidade campista e, principalmente, os empresários vinham desenvolvendo uma relação conflituosa com a Leopoldina Railway, multinacional inglesa responsável pelo transporte de carga e gente que chegava e saía de Campos. O motivo da rusga que tomara inicialmente as páginas do Monitor e depois da Folha do Commércio era o abusivo preço das tarifas da companhia de madeira, açúcar, algodão, cereais e produtos importados, que tinham um frete que chegava ao dobro do que era cobrado por empresas de transporte marítimo. O ápice da crise contra o “polvo inglez”, alcunha criada pela Associação na campanha, envolveu cenas de drama político.
Em uma calorosa reunião realizada na sede, acompanhada da praça por dezenas de comerciantes e populares, o carismático presidente da ACC, Bruno de Azevedo, eletrizou a assistência com um relato inflamado dos prejuízos causados pela política de preços da Railway. No momento certo, meteu a mão no bolso e dele retirou um telegrama, cuja leitura soaria como uma senha revolucionária: indiferente, a empresa anunciava por seu administrador, Arthur Knox, que as tarifas seriam mantidas até que a Leopoldina apresentasse lucro anual de 12 por cento. A essa altura, um associado lançou a proposta de que todos fossem a estação do Saco, que Arthur inaugurara em abril.
Ao descer para a rua, o grupo de reunião recebeu reforço dos que acompanhavam tudo da paca. A estação ainda cheirando a tinta fresca foi totalmente destruída, Vagões, carga e telégrafo tiveram o mesmo fim. Igual destino os revoltosos impuseram à estação da Coroa e também a da Avenida. Meses depois a Leopoldina Railway cedia, promovendo uma baixa nos fretes, uma saída à inglesa, pois os preços das demais praças não foram reduzidos. Bruno de Azevedo deu início a uma galeria de célebres líderes forjados pela Associação. Depois de criar, em 1907, a “Caixa de Socorros”, um fundo de assistência à comerciantes e familiares em apuros, lançaria em 1910, um marco na imprensa campista: a Folha do Commércio.
MOBILIZAÇÃO
Os principais fatos mundiais estendidos ao Brasil não deixaram de repercutir fortemente em Campos. Foi assim, de forma positiva para a economia local, com a Primeira Guerra, quando o preço do açúcar brasileiro ganhou competitividade por causa das dificuldades enfrentadas pela concorrência americana e europeia. No pós-guerra, os campistas viveram o drama da Gripe Espanhola, que causou muitas mortes no município. Anos depois a Grande Depressão, com a crise de 29, quando a economia mundial desabou, com a hiperinflação, falências, desemprego em larga escala e fome. Mais uma vez Campos sofreria consequências. Antes da crise o mercado estrangeiro retomara o fôlego deixando o setor açucareiro em novas dificuldades.
Em todos os momentos difíceis, no entanto, a Associação Comercial saiu em campo, com suas lideranças, propondo alternativas e contribuindo para os debates que buscassem soluções. Outros nomes de luta e talento vieram se somar a galeria inaugurada por Bruno de Azevedo: Ernesto Lima Barreto no pós-segunda guerra, Olavo Cardoso, Bartholomeu Lizandro de Albernaz, Alair Ferreira, José Carlos Maciel, Paulo Viana, Jorge Renato Pereira Pinto e tantos outros. Viana assinou na primeira delas, de 1976 a 78, o termo de permuta do terreno localizado nos fundos da sede antiga e que permitiria ligar a Praça à Rua Santos Dumont, depois de erguida a nova sede.
O Ninho das Águias, considerado obra referencial na arquitetura contemporânea de Campos, seria levantado na gestão do engenheiro Jorge Renato e inaugurado com grande mobilização popular, na segunda gestão de Paulo Viana. A ideia de por no chão o prédio antigo e construir em seu lugar um edifício de 15 pavimentos encontrou resistências. Jorge Renato tinha um firme ponto de vista: “sabemos o que é importante como antigo e que deve ser preservado em benefício da cidade. O nosso, apesar de possuir algumas características, não possui o necessário para ser preservado como patrimônio. O que preservado será é o patrimônio cultural e as tradições da casa”.
Amaro Gimenes definia sua gestão (89/90), como a gestão do intercâmbio. Foi vice-presidente da então FACIARJ, hoje FACERJ, onde pode assim, colocar a Associação em comunicação com as demais existentes no país.
CENTENÁRIO
Presidente do centenário da ACIC, Adailto Rangel, definido como o presidente da interação, manteve em sua gestão, uma política de aproximação e diálogo com a CDL, Sindicato do Comércio Varejista, Sindicatos dos Trabalhadores, Firjan e os poderes Legislativo e Executivo municipais. Optou por popularizar, junto aos comerciantes, a importância de se reconstruir o patrimônio moral da entidade, fortalecendo assim a sua representatividade. Para isso foi empreendido um grande esforço de promover o centenário da entidade, com a participação de toda sociedade, com isso, cresceu o número de associados e Adailto é considerado o presidente da nova fase da ACIC.
Jamil Queiroz sucede Adailto Rangel com a difícil missão de dar continuidade ao crescimento da entidade e de imediatamente implanta uma política de criação de novos serviços para atender aos associados, dentre outros a criação do Prote-cheque, serviço de informações sobre cheques aos comerciantes locais. Este serviço fez aumentar o número de associados. Passou a gestão dando grande contribuição para a elevação da entidade em sua nova fase.
AUDITÓRIO DA ACIC JÁ!
Tendo este tema como objetivo Dermeval Crespo assume em 96 a presidência da ACIC predestinado a concluir um sonho de todos os ex-presidentes o de concluir as obras do auditório da ACIC e lança uma campanha, junto aos diretores, conselheiro e associados, com a criação de um carnê de contribuição e uma conta especial para depósitos e pagamentos da obra. Um projeto foi feito e aos poucos o novo auditório foi tomando formato. Na sua reeleição, Dermeval conseguiu cadeiras plásticas e ventiladores e com o auditório somente limpo dos resquícios da obra, recebeu convidados para mostrar como era o espaço onde seria, dentro em breve, inaugurado o auditório. Terminou sua gestão faltando muito pouco para concluir, com o auditório já com teto de gesso, carpete e pintado. Foi uma gestão de muita dificuldade financeira, mas atuante, com grande participação dos associados e das entidades co-irmãs do município.
CONSOLIDAÇÃO
Adão Faria sucede Dermeval e logo nos três primeiros meses dá grande passo em sua gestão ao inaugurar o auditório, que contou com o apoio de grandes beneméritos da ACIC como: Rubens Venâncio, Thieres Rodrigues e Jorge Monteiro, aliás, os três primeiros títulos de Benemérito deferidos pelo Conselho Deliberativo por proposição da Diretoria. Ao firmar convênios como o Plano de Saúde ASES, Faria levou a ACIC a aumentar seu número de associados e passou a consolidar seus objetivos, que é o de ter um maior número de sócios e se tornar ainda mais forte na sua representatividade. Adão firmou ainda, no governo Arnaldo Vianna, convênio com a Secretaria de Desenvolvimento e Promoção Social para o pagamento do “Vale Alimentação”, projeto da ACIC para garantir aos comerciantes de gêneros alimentícios do município, um aumento nas suas vendas, uma vez que todos os comércios cadastrados passaram a vender ao receber o Vale. Antes empresas de fora ganhavam a concorrência dos gêneros alimentícios quando comprados em atacado. O objetivo foi o de promover o comércio local e foi alcançado.
RECUPERAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO
Nos últimos dois anos, Geraldo Muylaert dirigiu os destinos da ACIC, promovendo a recuperação do patrimônio histórico da entidade. Recuperou a porta de entrada do antigo prédio, a plenária das reuniões, quadros que pertenceram ao acervo e originais dos jornais que noticiaram, à época, a criação da entidade. Hoje a ACIC tem parte do acervo de sua história. Geraldo encerrou sua gestão no dia 31 de julho de 2006.